COLUNA CLÓVIS BARBOSA – A mais recente discussão que tem agitado os bastidores da política eleitoral gira em torno da chamada “indústria dos cortes” nas redes sociais, especialmente no que tange a campanhas políticas. Segundo uma ala do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), essa prática pode configurar abuso de poder, levando até mesmo à inelegibilidade de candidatos por um período de oito anos. O debate tem ganhado força com o foco sobre a estratégia adotada pelo candidato do PRTB à prefeitura de São Paulo, Pablo Marçal, cujo conteúdo fragmentado e monetizado nas redes está sendo alvo de escrutínio pela Corte.
Recentemente, durante uma palestra em São Paulo, a ministra substituta do TSE, Vera Lúcia, deu a entender que o tribunal está atento a esse novo fenômeno. Embora Marçal não tenha sido citado nominalmente, fontes indicam que o TSE está preocupado com os efeitos da monetização desses cortes no ambiente eleitoral, em especial pelo fato de que ainda não existe regulamentação específica para controlar essa prática. A “indústria dos cortes” seria uma tática que, segundo parte do TSE, pode desequilibrar a igualdade de condições entre os candidatos, favorecendo aqueles que têm maior engajamento digital.
A discussão, no entanto, levanta questões sobre a capacidade do Judiciário de acompanhar as inovações tecnológicas. Diferente de outras decisões já tomadas, como a proibição dos “deepfakes” nas campanhas eleitorais, essa nova prática parece ter pego a Justiça despreparada. A ideia de restringir ou proibir a “indústria dos cortes” revela, para muitos, a falta de entendimento sobre a dinâmica da internet e das redes sociais, o que coloca em risco a própria essência democrática de igualdade entre os meios de comunicação.
A internet como espaço legítimo de campanha
A possível decisão de vetar ou limitar o uso desses cortes é, para muitos, um reflexo de um sistema judiciário desconectado da realidade digital. Proibir uma ferramenta legítima como os cortes de vídeo, que permite disseminar informações de forma rápida e dinâmica, pode ser visto como uma tentativa de proteger modelos de mídia tradicionais — como rádio e TV — em detrimento das plataformas digitais que hoje dominam o cenário de consumo de conteúdo.
É fundamental, no entanto, que o Judiciário invista em uma compreensão mais profunda dessas ferramentas ao invés de simplesmente recorrer à proibição. Já existem mecanismos legais suficientes para punir abusos, como discursos de ódio ou desinformação, sem a necessidade de criar novas restrições que impactem negativamente o uso das redes.
A geração atual, imersa no mundo digital, não pode ser avaliada por autoridades que, muitas vezes, têm pouco ou nenhum conhecimento sobre o funcionamento dessas plataformas. Se o TSE quer garantir um pleito justo, deveria priorizar o entendimento das ferramentas, criando parâmetros claros e justos para seu uso, ao invés de impor restrições que podem limitar o alcance e o engajamento das campanhas online.
Em suma, o debate sobre a “indústria dos cortes” é mais uma prova de que o Brasil ainda enfrenta um grande desafio ao equilibrar tradição e inovação. O impacto das redes sociais na política não pode ser subestimado e tampouco deve ser tratado de forma simplista. Afinal, o que está em jogo aqui não é apenas a regulamentação de uma nova prática, mas a própria forma como nos comunicamos e participamos do processo democrático.
Clovis Barbosa, natural de Cabo Frio, é jornalista desde 2023, com registro concedido pelo Ministério do Trabalho. Empreendedor desde jovem, é fundador do CIC7 Notícias, da Agência Assunção, da Uptool Creative e da Uptool Consultoria e Serviços, além de ex-sócio do Rlagos Notícias. Atualmente, atua como CEO do Grupo Assunção de Multisserviços, desenvolve estratégias de comunicação digital, é colunista no CIC7 Notícias e no Rlagos Notícias, e dedica-se ao cuidado de sua família, que é sua prioridade.